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Pior IFDM do Estado é da Zona Sul

Santana da Boa Vista obteve o menor Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM) do Estado; Rio Grande foi o município com melhor desempenho na região

Carlos Queiroz -

A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) publicou recentemente o Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM), levantamento que avalia o desempenho das mais de cinco mil cidades brasileiras. Para isso, leva em conta critérios como geração de emprego e renda, saúde e educação. Na edição 2016 - baseada em dados de 2013 -, o município de Santana da Boa Vista, localizado a 142 quilômetros de Pelotas, acabou ficando em último lugar no Estado como o menos desenvolvido. A cidade da região com melhor classificação foi Rio Grande, na 150ª colocação, seguida por Pelotas (228º) e Aceguá (251º).

No caso de Santana da Boa Vista, os baixos índices de emprego e geração de renda - 0,3516 - podem ter contribuído para esse cenário, assim como a saúde cuja taxa ficou em 0,4673. Somente na educação o município apresentou índice de desenvolvimento considerado moderado pela Federação, com 0,6611. Segundo a prefeita de Santana, Aline Freitas (PTB), o desempenho da cidade no ranking surpreendeu toda a equipe de gestores. Apesar disso, ela reconhece as dificuldades enfrentadas pela comunidade no setor de empregos e geração de renda. Hoje é comum ver jovens saírem de Santana atrás de oportunidades em cidades maiores.

Esse, aliás, é o medo da estudante Mariane Oliveira da Silva, 15. Filha de um agricultor e de um professora, ela sonha com a carreira no magistério, mas teme não poder ficar em Santana da Boa Vista devido a falta de trabalho. Com um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,633, a cidade sofre com um mercado de trabalho estagnado onde a desvalorização dos profissionais é comum. Além de muitos empregadores não assinarem carteira de trabalho, os salários são baixos e as vagas escassas. Até no campo está difícil viver. Com economia baseada na agricultura, a maioria da população vive na zona rural, carente de escolas e unidades de saúde.

Não pode ficar doente
Para o morador do Cerro dos Melo e agricultor Jaine Valteri da Silva, 48, saúde deveria ser prioridade para qualquer governo e, apesar das melhorias observadas nos últimos anos, ainda há um longo caminho a ser percorrido nesse setor. "Não é certo a gente ter que vir às 4 horas da manhã pra fila em busca de atendimento." A fala dele é reforçada pela professora Maria Sueni Oliveira, 53, para quem idosos deveriam ter prioridade nas consultas. "A saúde está ruim em todo o Brasil e aqui é a mesma coisa. Ou tu espera horas pelo SUS ou paga." Essa, aliás, foi a solução encontrada pela agricultora Venina Machado Correa, 61.

Quando precisa ir ao médico, ela prefere pagar do que entrar na fila do Sistema Único de Saúde (SUS). Questionada sobre o impacto desse gasto no orçamento, Venina reconhece ser difícil pagar a conta sabendo que tem direito a atendimento gratuito. No entanto, acaba fazendo um esforço para garantir o tratamento de saúde. Outra barreira é a distância dos centros de referência em várias especialidades. Gestantes precisam fazer o parto em Canguçu - distante cerca de uma hora de Santana -, isso quando a gestação é de baixa complexidade. Nos casos de maior gravidade, só em Pelotas, a quase duas horas do município.

Educação modelo
Se falta emprego e a saúde não anda muito bem, a educação ajuda a levantar o animo de quem vive em Santana da Boa Vista. O município é um dos únicos da região a dar andamento as obras da escola de educação infantil do Pró-Infância. O projeto, abandonado em várias cidades da Zona Sul, tem andado em Santana que preferiu trabalhar com equipe própria, no lugar de contratar construtora terceirizada. "Não está sendo fácil, pois o projeto é bem específico, mas devagar estamos fazendo", garante a prefeita Aline Freitas. De acordo com ela, aproximadamente R$ 850 mil já foram investidos na construção, cuja previsão de entrega é para o primeiro semestre de 2016. Além disso, uma escola está sendo ampliada para garantir as vagas necessárias às crianças de quatro a cinco anos.

Desafio aceito
Apesar de questionar os métodos utilizados pela Firjan para chegar aos índices alcançados por Santana da Boa Vista, a prefeita Aline Freitas assegura estar ciente das dificuldades enfrentadas na saúde e na geração de renda. Para reverter esse quadro, há algum tempo a administração pública vem trabalhando na melhoria dos serviços à população. Em relação a geração de emprego e renda, a aposta tem sido no turismo e no incentivo à instalação de novas empresas no distrito industrial do município. Conforme a prefeita Aline, em tempos de crise é mais difícil fazer a economia crescer e atrair investidores, mas o Poder Público está fazendo o possível para isso.

Já na saúde, ela destaca a construção de uma unidade de saúde da família no bairro Florência, um dos mais carentes da cidade. A estrutura está pronta, mas precisa ser equipada para entrar em funcionamento, o que deve ocorrer em breve. Além disso, desde o ano passado a administração tem repassado mensalmente R$ 125 mil ao hospital da cidade, numa tentativa de cobrir os atrasos nos pagamentos estaduais e garantir o socorro à população. Profissionais também foram contratados para os postos de saúde, garantindo atendimento 24 horas por dia. Mesmo assim, ela reforça ser complicado investir e administrar bem quando os recursos vindos da União e do Estado são cada vez mais escassos.

Zona Sul no IFDM
Além de Santana da Boa Vista, Pedras Altas (485º) e Capão do Leão (479º) também tiveram baixo desempenho no Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal. No caso de Pedras Altas - 0,5620 -, o desempenho moderado em saúde não foi suficiente para superar a colocação regular em geração de emprego e renda, e educação. Já a nota leonense - 0,5816 - foi a mais baixa dos últimos cinco levantamentos, resultado puxado, principalmente, pela falta de oportunidades de trabalho. Rio Grande ficou com a melhor posição no ranking da Zona Sul, ocupando a 150ª colocação no Estado. Pelotas ficou em segundo lugar na região e em 228º no RS. Ao todo foram avaliados 491 municípios gaúchos.

A pesquisa
Criado em 2008, o índice de desenvolvimento dos municípios é divulgado todos os anos pela Firjan e usa como base de cálculo estatísticas públicas oficiais. A nota varia de zero a um - quanto mais próximo de um, melhor é o desenvolvimento da cidade - e é baseada na análise de três indicadores: emprego e renda, educação e saúde. O primeiro considera o quanto a cidade gera de empregos formais, sua capacidade de absorver a mão de obra local, quanto de renda formal é gerada, os salários médios e a desigualdade social.

Já na educação, são avaliados o número de matrículas na educação infantil, a proporção de estudantes que abandonam o ensino fundamental, a distorção idade-série, o número de professores com ensino superior, a média de aulas diárias e o resultado do Ideb. A saúde é calculada com base no número de consultas pré-natal, óbitos por causas mal definidas, óbitos infantis por causas evitáveis e número de internações sensíveis à atenção básica (ISAB).

Entenda o IFDM Índice - Nível de desenvolvimento
Entre 00 e 0,4 baixo estágio de desenvolvimento
Entre 0,4 e 0,6 desenvolvimento regular
Entre 0,6 e 0,8 desenvolvimento moderado
Entre 0,8 e 1 alto estágio de desenvolvimento

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